Polícia
Supermercado no Piauí é investigado por lavar R$ 7,4 milhões de estatal no DF
Em 30/07/2025 por Victória Saldanha

(Foto: Reprodução)

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) revelou a existência de um sofisticado esquema de corrupção instalado dentro da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). A investigação aponta que a estatal teria sido transformada em uma rede de negócios ilegais, com participação de servidores públicos, políticos influentes e empresas de fachada.

No centro da apuração está o servidor Francisco José da Costa, suspeito de comandar a engrenagem criminosa utilizando familiares como peças-chave na movimentação e ocultação de recursos ilícitos. Segundo o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), ele estruturou um “núcleo financeiro” dentro da própria família, com atuação direta de suas irmãs e da esposa.

Família envolvida na lavagem de dinheiro

As irmãs de Francisco, Emilene Ferreira da Costa e Maria Emília Neta do Nascimento, moradoras do interior do Piauí, movimentaram juntas ao menos R$ 935 mil em valores suspeitos. As duas teriam a função de receber, fracionar e repassar propinas para outros membros do esquema, conforme comandos transmitidos por mensagens de aplicativo.

A esposa do servidor, Maria Bernadete Machado, também teria papel ativo. Proprietária de um supermercado em Batalha (PI), ela utilizava o negócio como fachada para lavar grandes volumes de dinheiro. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou depósitos em espécie que superaram R$ 7,4 milhões em pouco mais de um ano, valor incompatível com o porte da empresa e da cidade onde opera.

Pagamento de propinas e manipulação interna

Além do uso de familiares, o esquema usava métodos clássicos para lavar dinheiro, como o transporte de valores em espécie. Em conversas interceptadas, expressões codificadas como “vamos tomar um café” ou “entregar documentos” eram usadas para disfarçar a entrega de propinas. Em um dos casos, Francisco teria enviado a foto do porta-malas do próprio carro aberto, indicando onde o dinheiro deveria ser colocado.

Durante a operação batizada de Alta Conexão, os investigadores encontraram mais de R$ 329 mil em espécie na casa do servidor. Parte dos valores era usada para manter a lealdade de outros funcionários da Novacap, como Sosthenes Oliveira da Paz e Renato Sousa Santanna, que recebiam repasses indiretos.

Empresas fictícias e conexões políticas

A organização também contava com empresas de fachada para emitir notas frias e receber valores desviados. Uma delas, a DM & Castro Engenharia, estava registrada no nome de Aurélio Rodrigues de Castro, outro servidor. Sem empregados, a empresa abriu conta bancária poucos dias antes de receber R$ 69 mil de uma empreiteira investigada. Para o Gaeco, a operação foi montada exclusivamente para ocultar o repasse ilegal.

O esquema se estendia até o meio político, com a participação de Ivoneide Souza Machado Andrade Oliveira, então secretária da Comissão de Economia da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Apelidada de “25ª deputada” por sua influência, Ivoneide atuava como intermediária para destravar emendas parlamentares que beneficiavam os contratos fraudulentos da Novacap.

Em mensagens trocadas com Francisco José, ela se compromete a apoiar o grupo e, em troca, solicita ajuda financeira, inclusive para viagens internacionais. Em um dos diálogos, Ivoneide pede R$ 15 mil em “socorro” e, no dia seguinte, encaminha documentos sobre a liberação de R$ 1,2 milhão para a estatal.

Corrupção sistêmica

Para o Ministério Público, a atuação da organização criminosa representa uma forma de corrupção institucionalizada. A estrutura do Estado teria sido capturada para atender interesses privados por meio de uma engrenagem que envolvia familiares, servidores, empresários e representantes políticos.

O MPDFT afirma que as investigações continuam e busca identificar todos os beneficiados, bem como rastrear o destino final dos recursos desviados. Francisco José da Costa é apontado como o articulador central da rede, comparado por promotores a líderes de organizações mafiosas devido à capacidade de operar um sistema complexo de desvio e lavagem de dinheiro.

 

Fonte: Conecta Piauí

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