04/01/2021 - Redação
A próxima safra de grãos do Piauí, que começa a ser colhida em fevereiro, deve bater um novo recorde. A Associação dos Produtores de Soja do estado - Aprosoja/PI ainda não consolidou o levantamento sobre a próxima colheita, mas já prevê mais de 5 milhões de toneladas de grãos, com um incremento de até 10% em comparação com a safra anterior (2019/2020). E a área plantada aumentou mais de 5%. O que não muda na próxima colheita é a supremacia dos cerrados, que concentram a produção de grãos no Piauí e respondem por 92% das exportações do estado.
Mas nem tudo é motivo para comemoração no agronegócio piauiense. O senador Elmano Férrer (Progressistas/PI), ao mesmo tempo que celebra a safra recorde, cobra melhores condições para o escoamento da produção. “Da porteira para dentro, o agronegócio do Piauí vai muito bem. Nossos produtores vêm ampliando a área plantada, investindo em tecnologias e elevando a produtividade do estado. Mas os problemas aparecem da porteira para fora, principalmente na hora de escoar a produção”, avalia o senador, que se empenha para ampliar a infraestrutura no Piauí.
Um levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab revela que as dificuldades de escoamento ocorrem em todo o Brasil e, dependendo do tipo de grão, até 0,17% da safra do país se perde nas rodovias. Mas, segundo o presidente da Aprosoja/PI, Alzir Neto, a realidade piauiense é ainda pior. “O percentual de perda na nossa safra é maior do que a média brasileira, já que os produtores do estado enfrentam mais dificuldades. São muitos gargalos, incluindo a falta de uma boa malha viária”, assinala Alzir Neto.
Segundo ele, há muito tempo o governo estadual não realiza uma obra relevante para beneficiar o agronegócio do Piauí. O produtor também reclama do atraso na construção da PI-397 (Transcerrados), uma via que, na avaliação dele, não tem a mesma importância de quando foi planejada, há mais de uma década. “De lá para cá, mudou muito o mapa do agronegócio piauiense. Agora, 70% da produção estão concentrados em quatro municípios – Ribeiro Gonçalves, Baixa Grande do Ribeiro, Santa Filomena e Uruçui -, em uma região que não será atendida por esta rodovia”, lamenta o produtor.
A gestão estadual, conforme Alzir Neto, deveria priorizar, neste momento, a conclusão de um trecho de 16km da PI-392, que liga Baixa Grande do Ribeiro à subida da Serra. “É um trecho pequeno, mas com um movimento maior do que a Transcerrados. Nesta região da serra, existem 380 mil hectares em produção. Infelizmente, a obra desta rodovia não avança e tem apenas 2,5km concluídos”, afirma o presidente da Aprosoja.
Canteiro de obras federais
Na avaliação de Elmano, as principais ações estruturantes no sul do Piauí são de responsabilidade federal. “O governo Bolsonaro transformou a região num grande canteiro de obras. E o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) se empenha para ampliar a malha viária e melhorar a logística de transporte”, comenta o senador. Entre estas obras, ele destaca o alargamento da BR-135 (Rodovia da Soja), a construção de mais um trecho da BR-235 e a finalização da ponte estaiada entre Santa Filomena/PI e Alto Parnaíba/MA, ligando os cerrados dos dois estados.
Os produtores rurais piauienses agora reivindicam a construção de outra rodovia, a BR-330. “A gente esteve com o ministro Tarcísio de Freitas discutindo a construção desta rodovia. E o ministro ficou de estudar a proposta que apresentamos a ele”, explica Alzir Neto. Na avaliação do presidente da Aprosoja/PI, a BR-330 pode integrar todo o Matopiba, região que abriga os cerrados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. “Seria a estrada com maior impacto no local, atendendo 90% das áreas produtivas do Matopiba”, prevê.
Ao defender a melhoria na logística de transporte, Alzir Neto diz que é preciso ir além das rodovias. “O futuro do agronegócio no estado também passa pela ferrovia Transnordestina e pelo Rio Parnaíba, que pode ser outra via de escoamento da nossa produção”, sugere. As observações do produtor convergem com a atuação parlamentar de Elmano Férrer, que apresentou um projeto de lei (PLS 67/17) em defesa da revitalização da bacia hidrográfica do Parnaíba. “A revitalização do rio é viável e estamos trabalhando para aprovar este projeto”, avisa o senador.
Insegurança jurídica e escassez de energia
O sucesso do agronegócio piauiense, conforme Elmano, deve ser creditado, com mais ênfase, ao trabalho de pioneiros – vindos principalmente do Rio Grande do Sul, de São Paulo e de Mato Grosso -, que acreditaram no potencial dos cerrados. “Infelizmente, os produtores não recebem o devido apoio do estado e muitos lutam contra a burocracia para tentar regularizar suas terras”, frisa o parlamentar. Entre os pioneiros, está Alzir Neto, que chegou na década de 90, acompanhando a família paraibana. “O tempo passou, mas, ainda hoje, nos deparamos com a insegurança jurídica, envolvendo a regularização fundiária”, confirma o produtor.
Outro elo fraco da cadeia produtiva envolve o fornecimento de energia. Alzir Neto conta que os produtores piauienses puxaram, por iniciativa própria, 400 km de rede elétrica, em parceria com a Eletrobras. Mesmo assim, segundo ele, a energia é insuficiente para atender a demanda. “Embora nosso setor primário cresça assustadoramente, o ritmo não é condizente com o potencial do estado. Sem energia, não conseguimos ampliar os investimentos. É importante lembrar que, atualmente, as fazendas funcionam como uma agroindústria, algumas com pequenas usinas de beneficiamento de algodão, que demandam muita energia”, destaca.
Ascom