07/07/2021 - Redação
O presidente do Haiti, Jovenel Moïse, foi assassinado a tiros na madrugada desta quarta-feira por homens armados que atacaram sua residência, no bairro de Pelerin, em Porto Príncipe (capital do país), segundo informou no início da manhã o primeiro-ministro interino, Claude Joseph. A primeira-dama, Martine Moïse, também foi baleada no atentado, mas foi socorrida com vida e encaminhada a um hospital. Ainda não se sabe a motivação do crime. O país, entretanto, vem observando uma grave escalada de violência há meses, e o líder haitiano chegou a acusar a oposição de tentar arquitetar um golpe de Estado para tirá-lo do poder.
Em nota assinada pelo primeiro-ministro interino, o Governo haitiano pediu calma à população e garantiu que tanto a polícia quanto o Exército foram convocados para garantir a ordem no país e investigar o assassinato de Jovenel Moïse.
Filho de um comerciante e uma costureira, Jovenel Moïse concedeu uma entrevista exclusiva ao EL PAÍS em fevereiro deste ano. À ocasião da entrevista por videochamada concedida ao repórter Jacobo García, Moïse acusou o andamento uma tentativa de golpe de Estado organizado por um grupo de famílias e empresários “que controlam os principais recursos do país, que sempre instalaram e removeram presidentes e que utilizam as ruas para causar desestabilização”, afirmou, sustentando que não deixaria o poder até 2022. “Meu mandato começou em 7 de fevereiro do 2017 e termina em 7 de fevereiro do 2022. Entregarei o poder ao seu proprietário, que é o povo do Haiti. Os oligarcas corruptos, acostumados a controlar presidentes, ministros, Parlamento e Poder Judiciário pensam que podem tomar a presidência, mas só existe um caminho: eleições. E eu não participarei dessas eleições.”
Após o assassinato do presidente Jovenel Moïse e da tentativa de homicídio contra a primeira-dama Martine, o aeroporto internacional de Porto Príncipe foi fechado, segundo fontes diplomáticas. Vários voos regulares para o aeroporto da capital haitiana foram cancelados ou desviados para outros terminais em países vizinhos, de acordo com informações das páginas de rastreamento de voos, embora nenhuma autoridade tenha confirmado até o momento o fechamento do aeroporto.
A origem política do conflito no Haiti, um país caribenho de 11,2 milhões de habitantes, está nas convulsivas eleições de 2015. Michel Martelly encerrou seu mandato, mas a autoridade eleitoral só reconheceu a vitória de Moïse um ano depois. Para a oposição, entretanto, seu Governo começou no dia em que Martelly deixou o poder e o acusou de ser um “ditador” por governar por decreto por um ano.
À crise política se somaram a pandemia de covid-19, furacões que devastaram várias cidades, e uma onda de violência urbana e sequestros que levaram ao esgotamento de uma população que tem em seu poder mais armas do que nunca, como apontaram diversos especialistas à reportagem. Dias antes da entrevista ao EL PAÍS, em fevereiro, Moïse falou com a imprensa haitiana e internacional em Porto Príncipe, quando anunciou a prisão de 23 pessoas suspeitas de conspirar contra o Governo, numa resposta a várias semanas de manifestações violentas em diferentes cidades do país para pedir sua renúncia. “Houve um atentado contra minha vida”, disse o presidente em 8 de fevereiro, em referência a um suposto complô que começou em 20 de novembro.
Gangues Armadas
Mais de 150 pessoas foram mortas e outras 200 sequestradas entre 1º e 30 de junho na área metropolitana de Porto Príncipe, revelou um relatório do Centro de Análise e Pesquisa em Direitos Humanos (CARDH) publicado na terça-feira. “O país está sitiado por gangues armadas que espalham terror, assassinatos, sequestros, estupros (...) Porto Príncipe está sitiada no sul, norte e leste. Assistimos a uma sociedade cada vez mais passiva enquanto o país está sitiado“, lamentou a organização, no relatório divulgado na véspera do assassinato do presidente.
Pelo menos seis estrangeiros foram sequestrados, elevando o total para 20 no primeiro semestre de 2021. O relatório, que fala da “hegemonia do crime no Haiti”, aponta ainda que entre 1 de janeiro a 21 de junho, ao menos 30 policiais foram mortos (em 2020, foram 26 assassinatos de policiais), segundo a ONG.
Com informações da Agência El País e a Agência de notícias EFE