14/05/2022 - Redação
Docente do Curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Marcos Antonio Tavares Lira é uma das maiores autoridades do país quando o assunto é energia fotovoltaica.
Em entrevista, Marcos Antonio diz que a UFPI é o maior centro de pesquisa do estado do Piauí e no que diz respeito a energia solar, ele destaca grupos de pesquisa que atuam tanto no Centro de Tecnologia quanto no Centro de Ciências da Natureza. "Nossa atuação está mais ligada à geração de energia solar. Nossos projetos partem do desejo de transformar/melhorar a realidade de determinada comunidade a partir de iniciativas inovadoras", diz.
Marcos Antonio Lira é doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Piauí; Mestre em Ciências Físicas Aplicadas pela Universidade Estadual do Ceará; Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará; Graduado em Licenciatura Plena em Física pela Universidade Estadual do Ceará. Diretor do Centro de Tecnologia da UFPI, vencedor do Prêmio Espírito Público (edição 2021).
Ele atua ainda como orientador da Liga Acadêmica de Energia Solar. Atua nas áreas de Pesquisa: Geração de Energia Elétrica; Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Conservação de Energia Elétrica, Eficiência Energética, Aspectos ambientais da Energia, Energia Solar e Energia Eólica) e Direito da Energia.
Marcos Antonio Tavares Lira - A UFPI é o maior Centro de Pesquisa do estado do Piauí. As pesquisas desenvolvidas nos cursos de graduação e nos Programas de Pós-Graduação buscam discutir e solucionar questões contemporâneas, ou não, em todas as áreas do conhecimento. Nossos recursos humanos são extremamente qualificados, o que também possibilita várias cooperações com outros centros de pesquisa reconhecidos nacional e internacionalmente. No que se refere às energias renováveis, temos grupos de pesquisa que atuam tanto no Centro de Tecnologia quanto no Centro de Ciências da Natureza, sobretudo em temas relacionados à energia eólica, energia solar e energia de biomassa. Nesse sentido, a UFPI tem papel de catalizadora da difusão do uso destes recursos renováveis.
Quais pesquisas o senhor tem desenvolvido neste segmento de produção de energia? Quais as principais constatações?
Marcos Antonio Lira - Nossa atuação está mais ligada à geração de energia solar. Nossos projetos partem do desejo de transformar/melhorar a realidade de determinada comunidade a partir de iniciativas inovadoras. De todas as ações desenvolvidas por nosso grupo, destacamos três: a) energia solar em comunidades do semiárido para uso no bombeamento de água; b) instalação de sistema de energia solar em uma escola para se trabalhar os conceitos de educação ambiental e c) uso da energia solar para um maior conforto térmico dos usuários de paradas de ônibus. Evidenciamos nestas pesquisas o grande potencial que o estado tem para a geração de energia solar, mas também a necessidade de ampliarmos políticas públicas que viabilizem o acesso à energia renovável por uma parcela maior da população.
Em suas pesquisas, quais são os fatos mais importantes em relação à energia solar?
Marcos Antonio Lira - Eu tenho absoluta convicção que o estado do Piauí deve se consolidar como o grande líder quando o assunto é geração de energia solar. Há uma possibilidade do uso da energia solar de forma conjugada com outra fonte energética. Nós integramos uma equipe que será responsável pela instalação de 4500 painéis solares flutuantes no reservatório da Usina Hidrelétrica de Boa Esperança, município de Guadalupe.
O Nordeste do Brasil sempre foi uma região de sol o ano todo, por que demoramos a usar esse potencial energético tarde?
Marcos Antonio Lira - Isso aconteceu porque em um primeiro momento a energia eólica se mostrou mais favorável técnica e economicamente. Somente em 2012, com a publicação da resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) que possibilitou que as pessoas gerassem sua própria energia e, posteriormente, com a realização de leilões voltados para a energia solar, essa difusão foi evidenciada.
O preço de equipamentos para instalação de geração distribuída (tetos e pequenos empreendimentos) é uma das razões que impedem maior avanço da energia fotovoltaica?
Marcos Antonio Lira - Esse é talvez o fator mais importante, mas é preciso destacar também que nós ainda não temos políticas públicas consolidadas nacionalmente que incentivem o uso da energia solar, apesar de termos experiências isoladas como o Programa Palmas Solar, no estado do Tocantins, e o programa Goiás Solar no estado de Goiás.
Com a energia fotovoltaica e eólica, o Brasil pode ainda temer ameaças de apagões como ocorreram há alguns anos?
Marcos Antonio Lira - Sim. O apagão ainda é uma ameaça, principalmente em anos com volume de chuvas abaixo da média e também porque estas fontes renováveis dependem dos recursos naturais vento e sol, que são recursos que nós não temos o controle. Esse problema tende a ser resolvido quando tivermos em operação as baterias de alta capacidade de armazenamento.
Tem como pensar o desenvolvimento econômico e social sem as energias limpas?
Marcos Antonio Lira - O desenvolvimento econômico e social de qualquer nação passa pelo abastecimento de energia elétrica. Precisamos de energia para movimentar a indústria e o comércio, para conservar um alimento ou medicamento, para nossas redes de comunicação, etc. Considerando esse caráter essencial da energia, qual a geração da mesma vem de uma fonte renovável, eu integro a dimensão ambiental, o que está completamente de acordo com o que preconiza a ONU por meio dos seus 17 objetivos do desenvolvimento sustentável.
Uma família que resolve instalar energia fotovoltaica em seu teto, quanto ela pode economizar ao longo do ano?
Marcos Antonio Lira - A economia pode chegar a 90%. Portanto, se essa família tem gasto anual de R$ 10.000,00, a economia pode chegar a R$ 9.000,00 anuais. O tempo que essa família leva para recuperar o investimento é de 3,5 anos e o sistema funciona por 25 anos.
Quais os desafios do País e do Piauí para o avanço e crescimento da energia fotovoltaica?
Marcos Antonio Lira - Precisamos avançar na desburocratização das resoluções e estabelecermos iniciativas, por meio de políticas públicas, que fomentem a adesão de novos consumidores. Outro desafio é a necessidade de uma infraestrutura moderna de transmissão de energia. De nada adianta termos condições naturais favoráveis para a geração de energia renovável se eu não tiver infraestrutura adequada para transportar a energia gerada. Finalmente, o desenvolvimento de uma cadeia produtiva local no que se refere a energia solar também se mostra como um grande desafio.
Quando os governos federal, estadual e municipal estiverem usando nos órgãos públicos a energia solar, qual seria o impacto na economia?
Marcos Antonio Lira - O primeiro impacto é o econômico, uma vez que haverá uma redução do valor que estes órgãos pagam pela energia elétrica. O segundo impacto é o ambiental. Quando se investe em energia solar, estamos adiando ou até evitando a construção de novas termelétricas, sem falar que contribuímos para a redução da emissão de gases de efeito estufa.
Em breve elegeremos um novo governador ou governadora. O que o novo governador precisará fazer para consolidar o Piauí como o grande líder na produção de energia renováveis?
Marcos Antonio Lira - É de fundamental importância que esteja atento às demandas atuais. É urgente que se anteponha às demandas que vão surgir em um horizonte de no máximo 3 anos. Três tecnologias se mostram potencialmente favoráveis para a nossa realidade. A primeira diz respeito à energia eólica offshore (instalação no mar). O estado precisa amadurecer as reflexões sobre o tema, sobretudo as relacionadas aos aspectos ambientais. A segunda é a instalação de energia solar flutuante em rios e lagos. Esta já será uma realidade em 2022 com a instalação de 4500 placas solares no reservatório da usina hidrelétrica de Boa Esperança, município de Guadalupe, projeto do qual são integrantes pesquisadores da UFPI. Finalmente, a última tecnologia se refere ao Hidrogênio Verde, combustível que pode ser obtido usando as energias renováveis na sua produção. Ou seja, não podemos ficar parados ou à mercê de termelétricas com combustíveis de origens fósseis.
Fonte: Meio Norte