13/06/2023 - Redação
Um fim de semana com feriado prolongado não costuma ser visto como uma boa oportunidade de vendas, ainda mais no setor automotivo, que tem apresentado quedas seguidas de desempenho. Mas, ao contrário das experiências anteriores, desta vez concessionárias de veículos registraram aumento nos negócios, algumas com o dobro de vendas fechadas em dois dias, ante o número habitual.
"Desde o anúncio do pacote do governo e com o início dos descontos, o incremento nas vendas foi surpreendente. O destaque foi o fim de semana, que teria um movimento fraco, por ser de feriado prolongado; porém, as vendas foram 60% maiores que as de um fim de semana normal", conta Marcos Leite, diretor de vendas da rede de concessionárias Amazon Fuji, da Volkswagen, que tem cinco lojas na cidade de São Paulo.
No mês passado, o segmento teve o pior maio desde 2016, com 166.361 carros novos vendidos, informou a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). A queda foi de 5% em relação ao mesmo mês de 2022.
A melhora do cenário se deve ao "mecanismo de desconto patrocinado na aquisição de veículos sustentáveis", medida do governo federal que entrou em vigor na terça-feira (6), com a publicação da MP (medida provisória) nº 1.175 no DOU (Diário Oficial da União). Ela estabelece reduções entre R$ 2.000 e R$ 8.000 nos preços de tabela dos veículos zero-quilômetro que custam menos de R$ 120 mil. Elas serão aplicadas até o limite de R$ 500 milhões, que serão repassados às montadoras.
Para Marcos Leite, até o momento, o programa está cumprindo seu objetivo. "Muita gente tinha convicção de que não ia atingir [o objetivo]. A medida trouxe de volta o público que não estava comprando carro e, além disso, atraiu também o comprador dos veículos de mais de R$ 120 mil, que estão fora do pacote de descontos. Correspondeu bem ao que o governo pretendia. Os carros que mais saíram foram Polo, Gol e T-Cross, do estoque 2022-2023", avalia.
Corrida às lojas
Fábio Varela, gerente-geral de veículos novos das quatro unidades da Renault R-Point na capital, diz que o movimento e as vendas praticamente triplicaram. "Normalmente são vendidos de oito a dez carros em uma semana. Nessa, só de quinta a sábado, com o alto volume de clientes, foram 44 automóveis comercializados", diz.
A Renault é, ao lado da Fiat (com o Mobi), a marca que tem o carro mais barato do mercado, o Kwid Zen, que, com o desconto, sai por R$ 58.990. Talvez por isso, o público que esteve nessas lojas nos últimos dias, com idade entre 28 e 42 anos, tenha sido um pouco diferente da clientela frequente, que se concentra na faixa etária de 35 a 50 anos, como relata o gerente.
Para Varela, a corrida dos consumidores às concessionárias no primeiro fim de semana do programa de descontos pode ser explicada pela limitação dos recursos do programa. "Os clientes sabem que esse dinheiro deve acabar logo. A indústria calcula que vá ser suficiente para subsidiar 62 mil carros, e isso não dá para quatro meses. Além disso, pode faltar estoque de veículos, já que as montadoras ainda enfrentam a crise de componentes, que começou na pandemia."
A "urgência" para quem quer aproveitar os descontos, aliás, é uma observação feita por todos os gestores de concessionárias ouvidos pela reportagem do R7, que têm a mesma opinião sobre os recursos de R$ 500 milhões, destinados pelo governo ao pacote de descontos para carros: não deve durar um mês.
Ney Faustini, diretor da concessionária Chevrolet Absoluta, afirma que os clientes têm a percepção do prazo curto. "O movimento foi muito grande, teve gente que passou pelas lojas só para conferir se tinha o desconto mesmo e ainda não fechou [negócio], mas já está voltando nesta semana para comprar. Hoje, segunda [antes das 17h], já fizemos cinco vendas. Sexta e sábado, vendemos mais que o dobro de um dia normal", comemora.
A concessionária Hyundai Grand Brasil registrou um crescimento de 40% nas vendas no fim de semana, segundo o gerente Jonas Lopes. "Esperávamos um pouco mais, mas a alta taxa de juros e a restrição no crédito pesam muito na decisão dos clientes, e por isso estamos perdendo muitas vendas", diz.
Ele afirma que não vão faltar carros da marca, que está com toda a linha HB20 e HB20S no programa. Além do desconto do governo, a montadora e a concessionária oferecem bônus aos clientes. "Esses R$ 500 milhões de incentivo não vão durar um mês", prevê.
Uma diferença observada por ele nos últimos dias foi a visita de um maior número de casais, na faixa etária de 30 a 40 anos.
Estoques
Na concessionária da Volkswagen, a maior procura no fim de semana foi pelos carros da linha Polo. "São os mais baratos e, normalmente, os veículos de passeio mais procurados", afirma Marcos Leite. Para o diretor de vendas, o que contribuiu para atrair os clientes, além do programa de descontos, foram as taxas promocionais de 0,99% oferecidas pela montadora. "E a concessionária também deu um desconto a mais, entre R$ 2.000 e R$ 5.000", completa.
"Agora estamos fazendo os cálculos de estoque, porque temos uma limitação, e as pessoas que retornaram da viagem do feriado já vieram procurar automóveis. O movimento continua grande hoje", afirma.
Em relação ao público que esteve nas lojas nos últimos dias, ele diz ter chamado sua atenção o aumento de pessoas em busca do primeiro carro, o que estava mais raro.
Recompor o estoque pode ser um desafio também para Faustini, da Chevrolet Absoluta, que praticamente liquidou o que tinha da linha Onix, graças à concessão de mais R$ 3.000 de redução, além do desconto previsto no pacote de incentivos do governo. O modelo mais simples desse carro, que custava R$ 85.290, agora sai por R$ 75.290. "Temos poucas unidades, e hoje passei o dia tentando repor meu estoque", conta.
Enquanto uma parcela da população aproveita a oportunidade para, finalmente, comprar um carro zero-quilômetro, há pessoas que ainda duvidam dos descontos da medida do governo federal. A elas, Marcos, da Amazon Fuji, manda um recado: "Acreditem na redução, pois ela existe mesmo. Tive que mostrar a alguns clientes os anúncios das semanas anteriores, porque eles não acreditavam que os preços eram maiores", finaliza.
R7