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Matéria / Geral

Fiocruz investiga se muriçoca pode transmitir vírus zika

Pesquisa deve ser concluída em três semanas e também vai revelar se vírus evolui mais rápido no organismo do vetor

31/01/2016 - Jesika Mayara

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19204dc02f75b643719fdd8a60dc.jpg Achados podem explicar a velocidade da epidemia de infecções. (Foto: Reprodução)
19204dc02f75b643719fdd8a60dc.jpg Achados podem explicar a velocidade da epidemia de infecções. (Foto: Reprodução)

A muriçoca pode transmitir o zika vírus? É isso que a Fiocruz Pernambuco pretende descobrir nas próximas semanas, quando será divulgado o resultado de um estudo iniciado no ano passado. Além da relação entre o zika e o Culex (nome científico da muriçoca), o centro de pesquisas investiga ainda quanto tempo o vírus leva para ser replicado no organismo do Aedes aegypti, principal vetor conhecido até agora. Os achados podem explicar a velocidade da epidemia de infecções e revelar um novo cenário epidemiológico da doença no Brasil. 

O impulso para a realização da pesquisa no Recife veio da observação dos primeiros registros de epidemia do vírus, na Micronésia e na Polinésia Francesa. “Nestes lugares não são encontrados Aedes aegypti, desconfiaram que seria outra espécie do Aedes, mas não acharam nenhum mosquito infectado em campo. Nestes locais, no entanto, o Culex é abundante, mas essa hipótese de ele ser um vetor do vírus não foi estudada ainda”, explica a vice-presidente e pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Constância Ayres. 

Para confrontar a hipótese, 200 muriçocas foram infectadas pelo vírus em laboratório duas vezes – uma no começo e outra no fim de dezembro de 2015. O próximo passo é colher materiais do intestino e da glândula salivar das muriçocas. “Estamos aguardando alguns reagentes que serão importados e dependemos disso para continuar. O prazo é de 15 dias e se correr dessa forma acredito que em três semanas teremos o resultado”, explica Ayres. 

Velocidade da transmissão 
O zika vírus, que foi identificado pela primeira vez em 1947, já está presente em quase toda América. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), além do Brasil, outros 20 países já registraram infecções. A rapidez na transmissão do vírus também é alvo do estudo elaborado no Recife. 

“Ao infectar o mosquito em laboratório, conseguimos acompanhar o processo de replicação do vírus dentro do seu organismo, quanto tempo leva para sair do intestino e chegar na glândula salivar. A minha hipótese é que esse tempo é menor porque se o zika se espalha tão rápido, é porque de alguma forma o vírus é replicado mais rápido dentro do mosquito também”, acredita a pesquisadora Constância Ayres. 

Para a pesquisadora, no entanto, independentemente da confirmação das hipóteses sobre a velocidade da transmissão e da muriçoca como vetor, é importante ter mais conhecimento sobre o processo do vírus no organismo do vetor, o que repercute na epidemiologia da doença. 

Se descobrirmos, por exemplo, que de alguma forma o Culex não processa o vírus e pode driblar essa infecção, vamos poder identificar os genes dessa resposta imune e isso pode também gerar novas possibilidades de bloqueio da transmissão”, diz. 

“Não tem tratamento específico e nem vacina. O elo mais vulnerável da transmissão é mosquito. Entender como ele interage com o vírus pode nos ajudar a desenvolver outras formas de controle”, conclui a pesquisadora. 

Fonte: Diário do Pernambuco

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