Picos(PI), 04 de Maio de 2025

Matéria / Polícia

Crimes e ostentação: facções investem em influenciadoras para expandir poder nas redes sociais, diz polícia

03/05/2025 - Redação

Imprimir matéria
P40G-IMG-9d90bfa8b5b8151805.jpg (Foto: Reprodução)
P40G-IMG-9d90bfa8b5b8151805.jpg (Foto: Reprodução)

Nessa semana, a prisão de 11 mulheres ligadas a uma facção criminosa, entre elas uma blogueira com mais de 58 mil seguidores, levantou a discussão sobre o uso de influencers por organizações criminosas com o objetivo de atrair jovens para o mundo do crime, principalmente mulheres.

A prisão mais recente nesse caso foi de Ana Azevedo, que, nas redes sociais, esbanja fotos com roupas íntimas e armas de fogo. No dia 30 de abril, com mais 10 mulheres, ela foi presa na operação “Faixa Rosa” e chegou a debochar da situação. “Um beijão a todos os meus seguidores. Gente, já já tô de volta, viu, meus amores? Me aguardem. Me deem forças nos comentários”, afirmou.

O delegado Charles Pessoa, coordenador do Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), afirmou que as facções estão usando as mulheres e as redes sociais com o objetivo de recrutar e influenciar os jovens.

“Essas mulheres jovens se escondem atrás de um filtro para disseminar essas ideologias criminosas. Nesse acompanhamento, identificamos mais uma forma de atuação das organizações criminosas, utilizando essas mulheres que fazem parte de um grupo, de uma célula de facção criminosa, que é composta única e exclusivamente por mulheres, e alguns dos papéis é disseminar essa cultura e essa ideologia das facções criminosas, usando as redes sociais para isso. Então é algo preocupante, e temos intensificado esse trabalho de monitoramento das redes sociais usadas por essas criminosas para que a gente não permita que elas influenciem os nossos jovens”, afirmou.

Foto: SSP

Presas na operação Faixa Rosa

Quando foram presas no dia 30 de abril na Operação Faixa Rosa, algumas das suspeitas debocharam da ação policial. Para o delegado Charles Pessoa, o deboche após a prisão vai passar. Algumas também chegaram a alegar que foram vítimas de maus-tratos, mas, quando o caso foi analisado pelo juiz na audiência de custódia, ele negou qualquer irregularidade.

“Quando você visualiza as imagens, você vê essas criminosas debochando. Elas acreditam na impunidade, não acreditam na Justiça, não acreditam na segurança pública, não acreditam na consequência desses atos. Mas existe um alinhamento muito grande da segurança pública com a Justiça, e tenho certeza de que elas vão ser julgadas e condenadas por integrarem essas organizações criminosas. Sobre a denúncia de maus-tratos, eu recebo com naturalidade, e elas alegam isso porque são orientadas pelas facções para levar uma imagem de ilegalidade das ações da segurança pública. Mas respeitamos os direitos de todas as pessoas. Atuamos de mãos e braços firmes, mas dentro da legalidade”, destacou.

Exibição de armas nas redes sociais

Charles Pessoa explicou que, quando o mandado foi cumprido, já sabia que havia pelo menos uma arma na casa da blogueira, devido às fotos que ela postava com armas de fogo. Quando ela foi presa pelo mandado de prisão temporária, estava na companhia do namorado, que já tinha um mandado de prisão em aberto. Ambos também foram presos em flagrante porque, na casa, foi encontrada uma arma de fogo e um celular roubado.

“Quando a gente estava investigando essas mulheres, com muitas provas — pois foram presas 11 —, representamos por duas medidas: uma de busca e apreensão e outra de prisão temporária. Já sabíamos que, na residência da Ana Azevedo e do companheiro dela, vulgo Rangel Matador, tinha uma arma de fogo. Ela mesma, nas redes sociais, ostentava essa arma de fogo e tem vídeos dela com duas a três armas ao mesmo tempo”, destacou o delegado, que ressaltou que ambos são de alta periculosidade. “Tanto ele como ela são membros do Bonde dos 40. Ele tem papel tanto no tráfico de drogas como na prática de homicídios de interesse da organização criminosa. E ela tem esse papel de disseminar e difundir as orientações da facção criminosa. Ela não fazia isso de forma aleatória", afirmou.

Influencers mortos, presos ou envolvidos em crimes diversos

Assim como Ana Azevedo, já houve outros casos de pessoas com amplo número de seguidores nas redes sociais, conhecidos como influenciadores, que também foram presos ou mortos por envolvimentos em crimes relacionados a facções.

Um dos casos de maior repercussão é o de Samya Silva, de 21 anos, que tinha quase 50 mil seguidores no Instagram, postava várias fotos mostrando o seu dia a dia, quando foi morta, segundo a polícia, por membros de uma facção criminosa que seria rival da qual ela fazia parte. O crime ocorreu em outubro de 2023.

“Esse mundo não dava pra ela”, diz mãe de blogueira Samynha Silva morta sobre alertas que fazia à filha

Outro caso conhecido é o da blogueira Maria Clara Sousa Nunes, a Clarynha Sousah, que é acusada de planejar a morte e esquartejamento de Silvana Rodrigues de Sousa, em junho de 2024. A investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, presidida pelo delegado Bruno Ursulino, apontou que ela seria "disciplina" de uma facção criminosa, ou seja, a pessoa que fiscaliza o código de conduta estabelecido pelo grupo criminoso, e teria coordenado o crime que terminou com a vítima esquartejada.

Outro caso de repercussão foi o da influenciadora Maria Eduarda Sousa, conhecida como “Charmosinha do 15”, presa em março de 2025 pelo Draco. Com mais de 35 mil seguidores, segundo a polícia, promovia jogos ilegais e é investigada por assaltos, tráfico e ligação direta com uma fação criminosa. Só entre 2024 e 2025, Maria Eduarda foi presa três vezes.

Segundo Charles Pessoa, quem se envolve com facção, a menor preocupação é a prisão.

“O menor risco para ela é a prisão. A gente já noticiou execuções de outras influenciadoras aqui do Piauí. A partir do momento que uma jovem dessa ingressa em uma facção criminosa, com certeza ela vai passar a ser alvo de ameaça de uma facção rival ou da própria facção, que tem o tribunal do crime. Então o caminho dessas pessoas não tem volta. A grande maioria vai ser morta. Então, elas se colocam em situação de risco”, afirmou.

Jogos de azar, "O Tigrinho"

Além do envolvimento com facções, influenciadores também são ligados a outros crimes, como a promoção de jogos de azar ilegais na internet.

No último ano, a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) prendeu mulheres ligadas a jogos de azar, como as influenciadoras Brenda Raquel (Brenda Ferreira), Letícia Ellen, Milena Pamela e Marta Evelin (Yrla Lima). Segundo a polícia, elas eram contratadas por plataformas de apostas para divulgar o serviço como se fossem marcas comuns, aproveitando seus altos números de seguidores.

Fonte: Cidadeverde.com

Facebook