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Crianças "escravizadas" por suposta profeta são resgatadas no Piauí

Três crianças entre 11 e 14 anos foram submetidas a cárcere privado e a exploração

07/02/2018 - Jesika Mayara

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4b526fc4e81f43c78b6d9e364184.jpg Delegacia regional de Campo Maior abriu inquérito para investigar o caso (Foto: Patrícia Andrade/G1)
4b526fc4e81f43c78b6d9e364184.jpg Delegacia regional de Campo Maior abriu inquérito para investigar o caso (Foto: Patrícia Andrade/G1)

Três crianças entre 11 e 14 anos foram resgatadas pelo Conselho Tutelar  após serem submetidas a cárcere privado e a exploração do trabalho infantil e até sexual em Campo Maior, Norte do Piauí. Elas foram encontradas na casa da mulher identificada como Maria Ozana da Silva, de 37 anos que se diz "profeta" e aliciava as crianças para trabalharem para ela e que também participassem de rituais de uma suposta seita criada por Ozana. O resgate aconteceu na tarde desta terça-feira (07) na comunidade Alto do Meio, zona Rural do Município.

A conselheira Tutelar Francisca Moura explica que a investigação surgiu após um pai residente no município de Marabá no estado do Pará - procurar o Conselho Tutelar para tentar resgatar o filho que estava vivendo com Ozana em uma casa no bairro Parque Flamboyant na zona Sudeste da capital.

"Uma filha dele estava na casa dessa mulher e conseguiu fugir. Ao encontrar o pai no Pará ela relatou os abusos sofridos na casa de Ozana e ele veio ao Piauí buscar o filho. Ele procurou o Conselho Tutelar e nós chegamos a ir até o endereço no Parque Flamboyant mas a mulher já havia saído do local, desta vez com destino a Campo Maior", explica a conselheira.

Já em Campo Maior, o Conselho Tutelar encontrou a criança desaparecida do Pará vendendo cocadas. Ao chegar na residência em que ocupavam foram encontradas uma jovem que se identificou como  filha de Ozana e outras duas crianças, as quais ela identificava como irmãos, mas que não possuíam nenhum documento.

"Eles foram totalmente arredios, mas conseguimos apreendê-los. A adolescente que se diz filha de Ozana possuía documentos que comprovam o parentesco, já as outras duas crianças que estavam com ela não tinham nenhum documento que identificassem o nome ou a origem de cada uma delas", acrescentou a conselheira.

A criança paraense foi devolvida a família e as outras duas apreendidas trazidas para um abrigo em Teresina.

A mulher não foi encontrada, e segundo o Conselho Tutelar, pelo menos outras 15 crianças foram vistas frequentando o local. "Ela possui casas em várias cidades e em todos os locais ela alicia essas crianças e adolescente sempre muito jovens. Ela provavelmente já está escondida em alguma outra residência", completou.

Adolescente revela abusos

A adolescente paraense que conseguiu fugir da casa e denunciou o esquema revelou em depoimento ao Conselho Tutelar que chegou a sofrer abusos sexuais na casa de Ozana, segundo ela, a mulher a obrigava a se prostituir e trabalhar para arrecadar dinheiro que seria usado para manter a seita.

"Ela obrigava as crianças a trabalhar e  até a se prostituir dizendo que esse dinheiro seria usado em prol deles, mas na verdade eles eram mantidos em condições de cárcere - nenhum frequentava escola, pois ela dizia que era coisa do demônio e a alimentação de todos era baseada somente em cuscuz ou pão com água", descreveu a conselheira.

Rituais chocantes

Ainda segundo a conselheira os jovens eram submetidos a rituais realizados em um terreno onde seriam obrigados a fazer jejum e em alguns casos a longas caminhadas de mais de 100 km. "Algumas crianças tiveram que andar de Teresina até Campo Maior e em seguida até Cocal de Telha (116km) por conta dos rituais aos quais eram submetidas", revela a conselheira.

Um inquérito foi aberto para investigar a denúncia na delegacia de Campo Maior. Segundo Francisca Moura, desde 2016 denúncias de crianças ligadas a uma suposta seita vem sendo investigadas no Piauí.

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