29/10/2018 - Redação
Apesar de ter perdido a eleição, o candidato petista Fernando Haddad teve mais votos na maioria dos municípios brasileiros. O petista ganhou em 2.810 cidades, ante 2.760 de Bolsonaro. Ainda assim, a diferença de votos entre eles foi de 10,7 milhões.
Os dados levantados pela reportagem mostram ainda que, quanto menor o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município, maior foi a votação em Haddad – e quanto maior, mais votos para Bolsonaro. O indicador mede a qualidade de vida da população com métricas de acesso à educação, longevidade e renda.
Em São Caetano do Sul (SP), cidade com maior IDH do País, o militar da reserva venceu com 75,1% dos votos. Já o pequeno município de Melgaço (PA), com menos de 10 mil habitantes e o menor IDH do País, deu vitória a Haddad por 75,6% dos votos.
A correlação é semelhante à estabelecida a partir das eleições presidenciais de 2006, quando o candidato petista era Lula e o antipetista era Geraldo Alckmin, do PSDB. A onda Bolsonaro praticamente substituiu o protagonismo do PSDB. Alckmin teve votação abaixo do esperado, mesmo no principal reduto do partido, o Estado de São Paulo.
A cidade de Nova Pádua, no Rio Grande do Sul, deu a maior vitória de Bolsonaro – 93% de seus 1.904 habitantes o escolheram como novo presidente. Guaribas, no Piauí, deu 98% de seus 2.938 votos a Haddad.
DESEQUILÍBRIO
Haddad conquistou mais municípios, porém com menos eleitores
Apesar de ter conquistado maioria em menos municípios, Bolsonaro foi vitorioso em cidades muito mais populosas do que Haddad – como São Paulo, por exemplo, que tem o maior eleitorado no País. Em votos válidos, a diferença de Bolsonaro para Haddad foi de 10,7 milhões de votos.
Os resultados do segundo turno mostram que o presidente eleito venceu em menos cidades do Nordeste – no primeiro turno ele teve mais votos em 38 de 1.377 municípios da região e no segundo, em 23. Haddad foi o que mais teve votos na região – ele venceu em todos os nove Estados nordestinos. Mas o militar da reserva teve vitória com larga diferença em Estados como São Paulo, Acre e Santa Catarina.
Em São Paulo, Bolsonaro conseguiu vencer com folga – teve 67,97% dos votos, ganhando na grande maioria dos municípios. O governador eleito no Estado, João Doria (PSDB), deixou de lado a figura do presidente de seu partido Geraldo Alckmin, que não decolou na eleição presidencial, e colou no nome do militar da reserva para se alavancar com pedidos de voto “Bolsodoria”. Ele e Márcio França (PSB) vinham polarizando fortemente desde que o socialista ultrapassou Paulo Skaf (MDB) e conseguiu ir ao segundo turno. Doria venceu com 10,9 milhões (51,75%) de votos válidos.
Nos três Estados do Sul, a vitória de Bolsonaro foi ainda mais expressiva. No Rio Grande do Sul, ele teve 63,24% dos votos válidos, ante 36,76% de Haddad. No Paraná, Bolsonaro ficou com 68,43% dos válidos, ante 31,57% de Haddad. Mas o Estado que mais deu votos para o presidente eleito na região foi Santa Catarina, com 75,92% dos válidos, contra 24,08% de Fernando Haddad.
Mudança. Alguns municípios mudaram de lado entre um turno e outro. Bolsonaro conseguiu converter 25 municípios de Fernando Haddad, seis deles em São Paulo, mas a resposta do petista foi maior. Haddad “virou” a disputa em 120 municípios onde o capitão reformado tinha sido o vencedor no primeiro turno, sendo que 41 deles estão em Minas Gerais, 19 em Goiás e 17 no Rio Grande do Sul.
Além disso, Haddad herdou a vitória em todos os 103 municípios em que Ciro Gomes (PDT) tinha obtido maior parte dos votos, todos na região Nordeste do País. No Estado do Ceará, que é reduto político de Ciro, o petista teve um de seus melhores desempenhos no Brasil e ficou com 71% dos votos válidos.
Essa transferência de votos de Ciro para Haddad já era prevista na série de pesquisas Estado/Ibope/TV Globo divulgadas durante o segundo turno, a partir do dia 15 de outubro, mesmo com o pedetista não declarando apoio formal a Haddad. O ex-governador do Ceará teve 13,3 milhões de votos no primeiro turno (12,47%) e ficou em terceiro lugar na disputa.
MAIORIA ABSOLUTA
Presidente teria sido definido em 1º turno em dois terços dos municípios
No 1º turno, Bolsonaro atingiu maioria absoluta (50% dos votos mais um) em 1987 municípios. Já seu oponente, Haddad, atingiu a mesma maioria em 2010 cidades. Outros 33 municípios deram sua maioria absoluta a Ciro Gomes e, nos outros 1678 municípios, incluindo a capital São Paulo, nenhum candidato atingiu a maioria absoluta.
Fonte: O Estadão